terça-feira, 17 de maio de 2022

Assédio moral  e a destruição da autoestima

Um dos fenômenos mais recorrentes na contemporaneidade se apresenta no ambiente de trabalho como uma modalidade de violência moral. As pessoas passam mais tempo no trabalho do que gostariam, mas não têm escolha. O imperativo da produtividade não deixa espaço para o lúdico ou a convivência descontraída em família. Os ambiente laboral está produzindo doenças mentais e angústias em vez de realização e crescimento.

O assédio moral vem sendo objeto de estudo há alguns anos, no entanto a mais danosa característica desse fenômeno é que não há como comprovar a violência impetrada contra o agredido, somente podemos identificar os danos psicológicos causados à vítima. O agressor é um sedutor social, senhor de uma imagem de sucesso, autoconfiança e eficácia. Trata-se de uma violência exercida de forma silenciosa, invisibilizada e que tem como resultante o burnout. O assediador tem uma relação de dependência com a vítima, dono de um narcisismo ferido costuma passar a imagem contrária, a de uma pessoa extremamente confiante. Ele exerce uma relação de dependência, pois o rebaixamento do outro é necessário para que ele alimente o próprio narcisismo.

O perverso moral nutre seu narcisismo esvaziando o narcisismo do outro, destruindo sua autoestima e sabotando-o em movimentos silenciosos e aparentemente inocentes lançando ao outro a imagem de incompetente. Através de informações vagas, comunicação indireta, indiferença social, elogio seguido de crítica de modo a tamponar a desqualificação que pretende lançar ao outro, tratamento diferenciado aos demais para fazer ressaltar ao agredido sua falta de importância e pequenos toques desestabilizadores, o agressor paralisa sua vítima. 

O esvaziamento da crença em si mesmo desvitaliza o assediado e o faz cometer deslizes devido ao intenso mal-estar causado pelo assediador. Quando os demais identificam uma vítima de assédio moral a isolam por medo de que o tratamento se estenda ao grupo. O agredido se vê isolado e em desamparo. A empresa não consegue tomar providências por falta de provas consistentes, e este é o ponto, não haverá provas. Tal violência moral é um modo de funcionamento patológico e a empresa não terá resultados ao enviar  a vítima para casa por alguns dias, pois ao retornar ela estará exposta ao mesmo ambiente traumático.

Ambos precisam de tratamento:  a vítima precisa mudar de ambiente e de acompanhamento para se recuperar dos efeitos dos ataques, que continuam a posteriori; e o agressor precisa compreender que está exercendo esse modo de funcionamento. Nem sempre está claro para quem exerce assédio moral a natureza de suas ações. Trata-se de um comportamento defensivo extremo que leva o sujeito a atacar quando interpreta algo como uma ameaça. Esse sujeito costuma ser oriundo de um lar no qual o sentimento de segurança e acolhimento emocional falhou levando- o a construir defesas elevadas.

Um dos pontos relevantes a ser considerado é que esse modo de funcionamento pode destruir uma pessoa psicologicamente de modo permanente, dependendo do período de exposição ao sofrimento. Outro ponto a ser considerado: as empresas precisam desmantelar modalidades de avaliação e culturas organizacionais que fomentem ou permitam abusos de relações de poder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário