quarta-feira, 29 de julho de 2015

Maturidade Moral

Maturidade Moral

Vivemos em uma sociedade que estimula a socialização. Seja virtual ou presencial, sentimo-nos todos participando da vida uns dos outros devido às inúmeras oportunidades de contatos nas redes sociais. Tornamo-nos íntimos sem nunca ter havido um papo olho no olho. A cumplicidade fabricada com pessoas estranhas torna-se mais fácil, pois elas não nos conhecem de fato. Aceitam nossa versão da história julgando a nosso favor, sem conhecer os outros personagens. Somos sempre os moralmente viáveis e dignos perante os olhos de desconhecidos. Logo, não é preciso assumir responsabilidade pela situação em que nos encontramos. Culpar outras pessoas o tempo todo e se colocar no lugar de vítima é falta de maturidade moral.
Também não existe maturidade moral em socializações nas quais pessoas ironizam aqueles que os acolhem em suas casas e os convidam para a sua mesa.  A violência recreativa não pode ser tolerada como algo divertido. A amizade foi banalizada e virou um jogo de interesses e troca de favores, um passatempo para fugir do tédio e da solidão.   O rombo existencial que as pessoas carregam em si é tamponado com conversas vazias e socializações intensas para suprir uma existência sem significado.  
O que sobra quando não se consegue entrar em contato com a própria essência por risco de desmoronamento emocional?
Às vezes é preciso desmoronar para dar lugar a um novo ser. Desconstruir-se para nascer novamente em outras paragens, aderindo a novos conceitos, pessoas e lugares que auxiliem a construir a melhor versão de si mesmo.



segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Valioso Tempo dos Maduros - homenagem à Mario de Andrade

O valioso Tempo dos Maduros

“Contei meus anos  e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente
 do que já vivi até agora.  
Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. 
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo
que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. 
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram 
pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. 
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, 
quero a essência, minha  alma tem pressa.
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, 
quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena. 
E para mim, basta o essencial!"

Mário de Andrade

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Autoestima: O Fermento do Sucesso


A autoestima deveria ser trabalhada no indivíduo em idade precoce, mas o que torna esta construção difícil é que os pais às vezes não possuem a própria autoestima elevada. As crianças tendem a imitar o que observam, e não o que é dito. Quando analisamos a trajetória de vida construída por nós até agora, entendemos a origem de nossos medos e inseguranças.  Para que possamos fazer os ‘consertos’ emocionais possíveis, uma das medidas necessárias é evitar os ambientes hostis, para não entrarmos em situações que detonem nossa autoestima. Assim como precisamos cuidar de nosso corpo, também precisamos cuidar de nossa saúde emocional. Se você quebrar um braço aos dez anos e não engessá-lo ou tomar as medidas necessárias para retificar o trauma, provavelmente você terá problemas futuros com esse braço pela falta de tratamento. O mesmo ocorre com nossas lacunas emocionais. Se não curarmos os maus-tratos, traumas, medos e inseguranças cujas origens estejam no passado, estaremos trazendo essa bagagem para o nosso presente. A alma também precisa de tratamento.
A autoestima não diz respeito somente a cuidar bem de si mesmo e ter uma autoimagem positiva, mas também tem a ver com a forma como permitimos que as outras pessoas nos tratem. É importante saber filtrar uma crítica e saber identificar o que nos serve e o que não nos serve acerca das colocações apresentadas. As dicas para avaliarmos essa questão estão no modo como um indivíduo se dirige a outro. A forma como ele fala, as palavras que ele escolhe para comunicar sua insatisfação e a motivação por trás da crítica. A palavra é um dos elementos determinantes para causar um impacto positivo, no sentido de levar uma pessoa a uma reflexão acerca de suas próprias atitudes, ou pode dizimar sua autoestima fazendo com que desenvolva falta de apreciação por si mesma.  A reincidência de maus-tratos, sejam eles físicos ou psicológicos, pode tolher a capacidade de desenvolvimento. Isso acontece com frequência em lares que praticamente assassinam o potencial de um indivíduo através de agressões verbais, brincadeiras inconvenientes, indiferença, comparações constantes, insatisfação contumaz acerca de qualquer tentativa de agrado e falta de apreciação das qualidades. É uma característica humana se deixar influenciar pelas opiniões alheias. Construímos nossa identidade a partir do olhar do outro. Grande parte das pessoas segue um grupo passivamente e tem pavor de separar-se dele. E isso ocorre porque quando a maioria acredita em determinada ideia ou opinião, as pessoas pensam que essa ideia está certa somente porque é defendida pela maioria.
“A unanimidade é burra”
Nelson Rodrigues

Outro ponto a considerar é achar que as pessoas em posição de liderança sempre sabem o que estão fazendo. As pessoas exitosas ou em posição de liderança também possuem suas incoerências e não sabem tudo.  Não devemos construir nossos conceitos com uma interpretação única e imutável com pontos de vista e crenças baseados somente na percepção do grupo ou cultura à qual pertencemos. Estar disponível a conviver com outros grupos e culturas torna nossa percepção elástica. Nossos conceitos devem ser uma obra aberta, pois o que aprendemos até o estágio em que nos encontramos não necessariamente será válido em relação ao nosso aprendizado daqui a alguns anos. Isso significa que nossos conceitos e crenças mudarão de acordo com as experiências adquiridas. Muitas vezes o indivíduo tem sua autoestima abalada devido a opiniões infundadas de outras pessoas. Quem valoriza demais a opinião dos outros por vezes deixa de fazer escolhas por medo do julgamento do grupo. Há muitas ideias confusas e imprecisas no mundo porque a maioria das pessoas pensa que pode ter boas ideias sem avaliar com mais profundidade ou sem conhecer experiências diversas de sua própria. Quanto mais ampliarmos o universo de nossos relacionamentos, mais nossa percepção expandirá e mais fácil será encontrarmos o grupo com o qual temos afinidade, sendo exatamente quem somos. Não precisarmos nos aleijar para caber num formato que não é o nosso. Temos todo o direto de desafiar ideologias dominantes, crenças e tradições que não nos servem e ir à busca do lugar ao qual pertencemos. Aquele que é diferente no grupo acaba sendo hostilizado ou desprezado de alguma forma sendo emocionalmente violentado justamente por não sair desse lugar que não combina com ele. Muitas pessoas têm dificuldades em sair do lugar emocionalmente hostil e buscar um ambiente saudável por dificuldades em entender o que isso significa, por nunca terem tido convivência ou acesso a um ambiente equilibrado e funcional. Algum tempo depois, quando têm acesso a uma socialização saudável e a oportunidade de observar outros ambientes, lhes vem o entendimento de que seus padrões de relacionamentos eram nocivos e que não devem mais ser aceitos. O contato com ambientes saudáveis é imprescindível para a construção de uma autoestima elevada. Relacionar-se com pessoas que reconheçam e apreciem o que temos de bom é fundamental para a construção do nosso self. A identidade do indivíduo é construída a partir das interações humanas.