sábado, 22 de agosto de 2015

Aprendendo a Lidar com a Dor

  Após certa idade, vivemos o suficiente para colecionar algumas cicatrizes. Há dores, traumas, mágoas e memórias que gostaríamos de esquecer. Algumas pessoas decidem passar por cima da dor e, em vez de sentir esse luto, preferem atropelar os episódios sem digerir completamente o que lhes aconteceu. Escolhem fugir do contato com a dor. Mas haverá um momento em que será preciso enfrentá-la para sair da superficialidade e arranjar tempo e atenção para si mesmo. Enfim, chegará a necessidade de se dedicar à própria cura.

 Possuímos vários bálsamos para atenuar a dor: amigos, viagens, família, trabalho, espiritualidade ou alguma arte ou hobby ao qual nos dedicamos com afinco. Porém, em alguns casos não podemos desconsiderar a ajuda de um profissional. Nem tudo conseguiremos resolver sozinhos. Não é sempre que encontramos o caminho de volta ou talvez estejamos demorando demais a sair de uma situação dolorosa. Não podemos deixar a dor se instalar por um período muito prolongado. Se não estivermos progredindo, temos que buscar orientação e pedir ajuda para a pessoa certa. Profissionais existem para isso.

Deve-se ter um cuidado com os conselhos, pois nem sempre as pessoas com as quais nos aconselhamos passaram pelas experiências que estamos passando ou então, não possuem maturidade emocional para ver além de sua própria percepção.

Indivíduos que passaram por momentos muito difíceis têm dificuldade em acreditar que algo de realmente bom possa ocorrer em sua vida.  Então, quando estão diante de uma situação que possa lhes gerar uma mera satisfação ou felicidade eles retornam ao antigo padrão, que lhes é familiar. Eles não sabem lidar com a alegria, com a fluidez das coisas; se algo está ‘dando certo’, eles logo pensam que tem alguma coisa errada. Algumas pessoas chegam a sentir-se desconfortáveis quando não têm problemas. Elas ficam ansiosas aguardando o aparecimento do infortúnio, o que na maioria das vezes não acontece, fazendo-as iniciarem o processo de autossabotagem. É preciso realizar uma reeducação a fim de desconstruir esse padrão doentio de ser incapaz de se divertir e desfrutar a vida por estar focando sempre nas misérias e amarguras da existência humana. É necessário entender que a alegria está disponível a todos, mas é um merecimento somente dos que se permitem vivenciá-la.


Mergulhando no Naufrágio

“Há uma escada

A escada está sempre lá

Inocentemente suspensa

Bem ao lado da escuna...

Eu desço...

Eu vim explorar os destroços...

Eu vim para ver o dano que foi causado

e os tesouros que prevalecem...”


Adrienne  Rich



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Perigo de um Futuro Brilhante


Lembro-me da marcante cena do filme “As Horas”, em que Clarissa, o personagem de Maryl Streep, conversa com sua filha relembrando seus tempos de universidade e pontuando o quanto ela se sentia imensamente feliz com a vida. Ela pensava que a partir daquele momento haveria cada vez mais e mais felicidade. Só que não haveria mais felicidade, aquela era ‘a felicidade’. Então, sua filha de vinte anos lhe responde: “O que você está querendo dizer é que um dia você já foi jovem”.
Essa bela cena reflete a inocência da juventude em relação às grandes expectativas geradas na largada da vida. Todos são tão iguais ao imaginarem um futuro brilhante, cheio de sucesso e realizações até que um choque de realidade os coloque diante de obstáculos e perdas ao longo do caminho.
Todos nós projetamos o que queremos nos tornar e sabemos que enquanto formos jovens teremos muitas oportunidades ou a crença de tê-las. Com o passar dos anos, começamos a avaliar o que nos tornamos em relação ao que havíamos projetado. Alguns saem no lucro, outros sofrem autodecepção, há ainda os que foram catapultados para muito longe de suas expectativas e poucos conseguem cumprir o roteiro programado em sua juventude. O que acontece no meio do caminho? Perdemo-nos de nossos objetivos? Apostamos nossas fichas no lugar errado? Não tivemos a percepção correta ao fazermos escolhas? Como trilhar o caminho certo para alcançar o futuro planejado em tenra idade?

Alguns fazem escolhas para obter aprovação. Poucos dão a largada sabendo exatamente para onde querem ir. Quando somos jovens nossos objetivos raramente estão definidos, há confusão e indecisão e todos os caminhos parecem prósperos. Logo, alguns começam a experimentar e de tanto experimentar acabam não se encaixando, pois desperdiçaram tempo demais.  Quando se olha para trás tudo o que se vê são carreiras instáveis, divórcios múltiplos, filhos distantes emocionalmente, amigos que se perderam ao longo do caminho.    

Após a maturidade sabemos que nossas oportunidades serão escassas. Então, não há tempo para experimentar demasiado e viver continuamente sem comprometimento, a juventude passa e construções consistentes demandam rotina.